quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Aumento do pênis provoca guerra judicial


Uma cirurgia funcional ou meramente estética? Uma decisão da Justiça Federal mexeu com um dos assuntos mais reservados do universo masculino: o tamanho do pênis. De um lado, estão o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), que defendem a tese de que a cirurgia para o alongamento do pênis é experimental e deve ser tratada com cuidado. Na outra trincheira está a Sociedade Gaúcha de Andrologia, que pede a liberação das operações. A guerra começou quando uma resolução do CFM foi cassada judicialmente a pedido da entidade gaúcha.

A 17ª Vara Federal, de Brasília, entendeu que o Conselho extrapolou em suas atribuições ao baixar uma resolução considerando a cirurgia experimental. Quem deveria definir os protocolos para os procedimentos científicos seria o Conselho Nacional de Saúde, um órgão ligado ao Ministério da Saúde. Na prática, isso significou o seguinte: a decisão da juíza Maisa Judice é sinal verde para as cirurgias no Brasil. Mas o processo está na fase de recurso. As duas mais representativas entidades médicas envolvidas no debate - a SBU e o CFM - reagiram em tom indignado à decisão, que não julgou o mérito do caso.


Em nota de esclarecimento, a Sociedade Brasileira de Urologia condenou qualquer operação para "o aumento do pênis através de extensores ou técnicas cirúrgicas". Essa posição acaba de ser reafirmada, em São Paulo, no II Consenso sobre Disfunção Erétil e Sexualidade, que reuniu médicos, cirurgiões e psicólogos. Quase ao mesmo tempo, o Conselho Federal de Medicina apresentou recurso à Justiça alegando que o alongamento peniano é um procedimento experimental, suas consequências ainda não são conhecidas e, para se tornar uma prática médica consagrada, deveria ter, no mínimo, 10 anos.

“A prática experimental deve ser feita apenas em hospitais universitários e sem ônus para os pacientes. Não é bem isso o que o pessoal dessa Sociedade Gaúcha de Andrologia acha do assunto”, acrescenta a advogada do Conselho Federal de Medicina, Gisele Gracindo.


Sonho masculino

“São uns talibãs”, acusa o presidente da Sociedade Gaúcha de Andrologia, o médico Bayard Fischer Santos, que encabeçou a ação movida na Justiça contra o Conselho Federal de Medicina. Bayard é defensor do aumento peniano e vem realizando as operações em São Paulo e Porto Alegre, onde mantém clínicas. É também autor de um livro sobre o tamanho do pênis que já vendeu, em dois anos, 10 edições.

Do outro lado, os "fundamentalistas" das duas entidades médicas criticam a constante presença de Bayard em programas populares da TV, nos quais aparece tendo à mão um pênis de plástico para ilustrar as entrevistas. O andrologista teria, ainda segundo seus críticos, o hábito de relacionar o sucesso de Aristóteles Onassis, tanto nos negócios quanto nos amores, ao tamanho do pênis do magnata grego.

Ter um pênis maior parece ser um desejo comum a maioria dos homens, como observa o presidente da Sociedade Internacional para o Estudo da Sexualidade e Impotência, o brasileiro Sidney Glina (leia a entrevista). Esse desejo pode ter consequências dramáticas. Há relatos de pacientes que cometeram suicídio após o fracasso de uma operação que causou impotência no paciente.

“Nós temos o dever social de condenar essas operações”, diz o presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, Eric Roger Wroclawski. Ele apresenta argumentos para repudiar a técnica: segundo Wroclawski, não há na literatura médica dados científicos que confiram credibilidade à técnica. "Não estamos brigando contra ninguém, mas precisamos refletir um pouco mais sobre o assunto. Para nós, é um perigo falar em aumento peniano", diz o presidente da SBU, insistindo em que há carência de dados científicos sobre o assunto: “Abundam evidências de que essas operações resultam em complicações, o que é confirmado na prática dos nossos consultórios. A solução não é aumentar o pênis. Não é assim: ficou maior, funcionou melhor”.


Auto-estima

O andrologista Bayard Fischer Santos discorda da Sociedade Brasileira de Urologia. Ele diz que listou, na ação movida contra o Conselho Federal de Medicina, 1.000 trabalhos científicos sobre o assunto e acredita que, hoje, o total de relatos deve ultrapassar os 10 mil. Há, segundo ele, centros especializados no aumento peniano todo o mundo.

“Eu sou espanhol de nascimento. E, na Espanha, há 12 mil centros-pilotos de fisioterapia de pênis. Nos Estados Unidos, a cirurgia para o aumento de pênis é bem aceita. Há estimativas de que 10% dos homens tenham pênis menores de 12 centímetros de comprimento e de 10 centímetros de perímetro em ereção. Nesse caso, até por razões de auto-estima, é recomendável o aumento peniano”, diz Bayard, que será o organizador do VII Congresso Mundial sobre Aumento Peniano, no Rio, em dezembro deste ano.

Para o presidente da SBU, a aprovação por uma sociedade médica norte-americana não é garantia irrestrita, porque o alongamento do pênis é reprovado por outras duas sociedades médicas americanas - uma delas é a Associação Americana de Urologia (AUA). Eric Roger Wroclawski lembra ainda aos interessados que o aumento ocorre quando o órgão está flácido e não ereto. “Qual é o valor de um pênis flácido? Quanto ele aumenta ereto? Qual é o valor disto? Plástico? Estético? Serve apenas para o banheiro do clube. O cara olha e diz: ‘olha que bilau grande ele tem’”, detona Wroclawski.

O Conselho Federal de Medicina espera que o Conselho Nacional de Saúde siga o seu caminho e considere a operação experimental, exigindo, a partir disso, o cumprimento de uma série de protocolos científicos. A advogada do CFM, Gisele Gracindo, afirma que há outro problema por trás da polêmica: “O que os defensores da operação querem é que a prática seja reconhecida pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Vamos então desviar dinheiro do tratamento do câncer ou da leucemia para um tratamento que deve ser psicológico? Isso não é doença. O debate sobre esses centímetros é absurdo”.

Por outra razão, o médico Bayard também afirma que o debate não tem sentido: “Essa cirurgia já foi liberada em todo o mundo. O Brasil está atrasado nesse assunto”.


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